Se temos a Bíblia, porque usarmos a Psicologia?


embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; ao contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo”. (2ª Coríntios 10:3-5)

A pregação da Igreja Batista do Morumbi baseia-se na convicção de que a Bíblia é a revelação proposicional da decisão de Deus em amar o homem caído.

O homem esforça-se para encontrar um sentido para a vida neste mundo. Parte desse esforço é a tentativa de integração entre a Teologia Cristã e a Psicologia, uma vez que ambas oferecem grande contribuição para a compreensão da raça humana. Essa proposta considera que o produto do estudo bíblico e a pesquisa da Psicologia têm igual valor quanto à visão da realidade. No entanto, tal visão da realidade está em constante fluxo, devido ao continuo avanço e expansão da teoria e conhecimento científico.

Há três abordagens diferentes em relação à integração da Psicologia e a Teologia Cristã.

A primeira afirma que a Teologia Cristã e a Psicologia são essencialmente incompatíveis. Ambas são percebidas como inimigas mortais.

A segunda abordagem encontra valor em certos conceitos bíblicos, mas os redefine de forma a remover seu conteúdo sobrenatural, analisando-os de modo a explicá-los sem seus aspectos miraculosos e divinos.

A terceira abordagem reconhece tanto a Psicologia como a Teologia Cristã como legítimas, mas não busca uma integração entre elas, mantendo-as em compartimentos separados, secular e sagrado. São reconhecidas como expressando as mesmas verdades, possibilitando o uso da Psicologia para ilustrar e dar apoio ao ensino teológico.

Alguns cristãos buscam uma integração entre a Psicologia e a Teologia Cristã, argumentando que toda a verdade é a verdade do Deus criador de todas as coisas, seja ela encontrada na revelação bíblica ou na experimentação científica. A tentativa de equalizar a revelação bíblica e as percepções humanas estimuladas pela criação encontra uma dificuldade. Enquanto o homem e a natureza são caídos, a revelação das Escrituras não é. Pelo contrário, sua mensagem é inerrante. Foi introduzida depois da Queda com o propósito de comunicar o amor de Deus ao homem caído.

Como conseqüência, as interpretações e conclusões derivadas do estudo dos dados tirados da criação não podem receber o mesmo status das declarações claras e simples das Escrituras. A última coisa que queremos é escurecer os ensinos bíblicos integrando-os às areias movediças das teorias e modelos científicos. Pelo contrário, o trabalho crucial do cristão é preservar e difundir a fé que “uma vez por todas foi confiada aos santos” (Judas 1:3)

As Escrituras devem reger nosso entendimento da pesquisa, da teoria e da prática psicológicas, ainda que uma possa cooperar com a outra. A Psicologia faz perguntas e oferece dados que ajudam o entendimento teológico do ser humano, e a Teologia expressa as verdades divinamente reveladas que oferecem qualidade à visão da humanidade da Psicologia que, por natureza, está em desenvolvimento constante.

A Escritura é verdade, assim como os dados que aprendemos da natureza. O homem que lida com ambos, porém, é caído e falível. Então, sua interpretação tanto da Escritura como da criação não tem a garantia da certeza. O objetivo da vida humana tornou-se uma busca pela verdade e um esforço para integrar toda a verdade disponível em um dado momento. Nossa compreensão da verdade não é completa, mas está em constante avanço. Aqui lidamos com um dilema: de um lado, temos a compreensão humana, que, marcada pela queda, não é plena, mas muda o tempo todo. De outro, temos o homem falido e falível, que busca compreender a verdade, ao mesmo tempo em que a percebe de forma limitada.

Precisamos de mais conhecimento que possa ajudar-nos a tratar com os inumeráveis problemas confrontando a igreja hoje. Precisamos de novas percepções sobre o ensino bíblico e novos conceitos teóricos para entender melhor a natureza do homem e de seu funcionamento. E precisamos de uma aplicação crescente de nosso conhecimento bíblico. A Psicologia e a Teologia podem cooperar para uma reavaliação das respostas que tem sido dadas a algumas questões antigas. Devemos estar dispostos a usar o que já sabemos até agora para fundamentar nosso estudo do ser humano e do dilema humano.

Temos, de um lado, a Escritura que se afirma a si mesma como suficiente para a instrução do homem na verdade (2 Tm 2:15; 3:16). Do outro lado, a ciência humana que caminha devagar, pois tratada pelo homem com sua natural ansiedade e conseqüente necessidade de defesa. Torna-se rígido, fechado ou intolerante, temendo as conseqüências da abertura. Temos aprendido que é mais seguro restringir nossa consciência. Como o homem, com tal dificuldade, pode garantir uma compreensão adequada de si mesmo?

Como Cristãos podemos afirmar uma sabedoria parcial nisso tudo, mas apenas dentro do contexto de uma estrutura bíblica fixa e ampla. A Bíblia recomenda-nos cautela e circunspecção. (I Ts 5:21) As Escrituras nos ensinam a não nos conformarmos com este mundo, mas transformar nosso modo de pensar segundo a mente Daquele que tem autoridade sobre tudo.

Não temos que validar a revelação com o conhecimento do mundo, mas trazer o conhecimento do mundo cativo à revelação: “Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo”. (2ª Coríntios 10:5). Não temos que nos engajar em uma busca pela verdade, mas proclamar que temos sido visitados pela verdade (João 1:9, 10) e a Palavra de Deus é a verdade.

A decisão do cristão deve ser evitar lealdade a qualquer ciência humana. Não por conta da incerteza perpétua do homem, mas por que toda ciência, ainda que em processo de descoberta da verdade, depende de construtos humanos e, portanto, inferior a nós mesmos, alvos da Graça de Deus. Não podemos tomar as teorias humanas seriamente porque são em princípio falíveis. A eterna sabedoria nos diz que o criador não se curva diante da sua criação.

Um modelo bíblico para a Psicologia

A Bíblia, anunciando a Graça de Deus para o homem, considera-o definitivo. Tão definitivo que Cristo tornou-se homem e viveu entre nós. Mesmo em sua natureza glorificada pela ressurreição, pôde ser reconhecido pelos discípulos. Portanto, a ciência não pode ser maior que nós, pois ela é criação nossa, ainda que limitada, imperfeita. A recusa de adorar as obras de nossas mãos nos dá liberdade. Nós somos os mestres da pesquisa e da teoria científicas e elas são apenas instrumentos e ferramentas. A posição cristã é clara: trazer as imaginações humanas à submissão de Deus e sua Palavra.

Através de Sua Palavra Deus providenciou um sistema no qual há tanto estrutura como liberdade. Se crermos com firmeza em seus claros ensinos, recusando ficarmos impressionados diante das obras de nossas mãos e de nossas especulações, seremos abençoados e aproveitaremos uma Psicologia produtiva, porque orientada por Deus. Na liberdade do Reino de Cristo descobriremos todas as boas e verdadeiras coisas que Ele tem para nós no domínio da Psicologia. A estrutura de pensamento providenciada pelo Espírito Santo permite um avanço da ciência porque ela submete o conhecimento da ciência ao endosso de Deus, que valida ou não nossas teorias e modelos científicos.

As doutrinas e categorias bíblicas básicas não podem ser niveladas às teorias e conceitos humanos. Se fizermos isso teremos um mau Cristianismo e uma má Psicologia. Se mantivermos firmeza de fé e disposição de submissão a todo conselho bíblico, encontraremos a liberdade e a estrutura necessária para verdadeira produção científica. Em Cristo e em Seu Reino, a Palavra de Deus é sempre “sim”. (2ª Coríntios 1:20). A ciência humana será sempre talvez e, muito freqüentemente, não.



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