Filhos no processo de separação!

Por trinta anos, como conselheira ou como psicoterapeuta, tenho atendido casais ou filhos de pais que estão enfrentando crise no relacionamento conjugal! E muitos destes casais acabam em separação! O processo de quando se toma conhecimento da crise até a definição da separação as vezes é longo, cheio de ofensas e muita dor, para todos os envolvidos, mais próximos! É uma fase onde muitas vezes os casais são engolidos pelas emoções e se tornam incapazes de separar os problemas conjugais das funções paternais. Isto é, não sabem separar os conflitos do casamento que dizem respeito apenas ao marido e mulher das questões referentes as obrigações tanto do pai como da mãe. E insensivelmente usam os filhos na tentativa de resolver a separação de uma forma onde a própria reputação não fique arranhada ou então tentam amenizar o provável julgamento que receberão dos próprios filhos quando estes estiverem em idade que o capacitarão a isto. O pior de tudo isto é que se conseguirá apenas acentuar muito mais a dor dos filhos que já estão de alguma forma sofrendo com a adaptação na vida com os pais separados ou em fase de separação! Se o casal não consegue solucionar as questões da separação de um modo que chamarei civilizado, então que se recorra a um profissional, um conselheiro, advogado, pastor, padre ou qualquer outra pessoa, mas nunca aos filhos. A meu ver, recorrer aos filhos como que querendo tê-los do lado, para provar que está mais certo que o outro, revela muita imaturidade e uma atitude impiedosa e covarde para com os filhos.

Não quero mencionar soluções nem dicas mágicas, mas gostaria de relacionar algumas questões para que o casal possa pensar um pouco e achar um caminho que suavize um pouco o desconforto dos filhos, que são inocentes e dependendo a idade, indefesos, diante dos conflitos de ordem conjugal numa separação:

  • O casal deve lembrar que o que está sendo quebrado é o vínculo conjugal e não o vínculo de paternidade ou maternidade. Além do vínculo, dependendo da idade dos filhos temos funções e obrigações como pais. E a função ou a obrigação, com o crescimento dos filhos, vai diminuindo até terminar quando o filho se torna adulto. Porém, a filiação é eterna, impossível de ser quebrada. Pode até ser negada, mas quebrada nunca!
  • Cada vez então que for necessário citar o cônjuge para o filho é importante lembrar que o que está sendo dito é a respeito do ex-marido ou ex-esposa e não do “seu pai ou sua mãe”.
  • Crianças e adolescentes em geral sentem-se culpados e desvalorizados quando os pais se separam. Os pais podem amenizar a dor destes sentimentos se souberem respeitar os filhos e reafirmar o amor filial por eles.
  • Adolescentes e jovens ficam indignados, e nem sempre sabe como expressar a indignação, quando são solicitados a fazer algo para beneficiar ou prejudicar um dos pais.
  • Filhos não precisam estar presentes para qualquer tipo de acerto de conta dos cônjuges. As questões devem ser resolvidas e depois se for conveniente e necessário comunicada aos filhos.
  • A comunicação entre o casal pode ser feita usando o avanço da tecnologia (e-mail, telefone, etc) ou o advogado. Fazer dos filhos “meninos de recado” agride muito mais o filho do que o cônjuge.
  • É impossível eliminar a influencia e a herança que cada pai ou mãe passará para o filho. Também é impossível suprir a ausência de um pai ou mãe faltoso, tentando exercer as duas funções: paterna e materna. Quem tenta fazer isto em geral, não supre nem a sua função e nem a do outro e reforça mais a falta já sentida pelos filhos.
  • Enfim, temos que criar nossos filhos da melhor maneira possível para que eles tenham mais recursos que nós, na difícil tarefa de viver bem!

Espero que, refletindo um pouco sobre estas questões os casais que optaram pela a separação, possam encontrar um caminho menos desconfortável, no processo de se ajustarem na convivência com os filhos.

Esther Gomes de Lima Carrenho

CRP 06/50729-9